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Feito por alguém

Quando a Primeira Folha começou, os rótulos eram escritos à mão. Não havia máquina, nem gráfica. Havia mão, papel, barbante, atenção. Agora, depois de anos de produção e amadurecimento, voltamos a esse gesto.


Nos acostumamos a associar o luxo ao polido, ao perfeito, ao impresso em alta definição. Mas se olharmos de perto, o que há de mais precioso no mundo continua sendo feito à mão: os frascos das casas de perfume mais raras, as peças de alta-costura assinadas individualmente, os utensílios de cerâmica queimados lentamente em forno de lenha. O artesanal, quando bem posicionado, não é o oposto do luxo — é o seu núcleo.


Assinar um produto à mão é uma prática quase extinta na indústria. Mesmo nas grifes mais caras, a produção é terceirizada, mecanizada, ou, no máximo, finalizada por um artesão invisível. A caligrafia manual desapareceu dos frascos, dos papéis, dos contratos. Tudo é padronizado, até o carinho.


Voltar a escrever nossos rótulos à mão é uma escolha que afirma: o trabalho humano importa. A imperfeição é uma linguagem. E o toque visível de quem faz não é precariedade — é valor. Num país em que mais de 9 milhões de pessoas vivem do trabalho artesanal, onde cada vez mais gente busca alternativas ao excesso, ao plástico e à padronização estética da indústria do bem-estar, esse gesto é necessário.


Em 2023, o Brasil produziu mais de 2,2 milhões de toneladas de embalagens plásticas flexíveis. A maior parte delas termina em lixões, aterros ou nos rios. Microplásticos já foram encontrados em alimentos, na água encanada, e até em sangue humano. No setor wellness, embalagens visualmente “clean” muitas vezes escondem laminações plásticas, insumos não recicláveis e cadeias industriais extensas, centralizadas e insustentáveis.


Contra isso, um rótulo escrito à mão, sem plástico industrial nem energia de impressão, é mais do que ecológico: é insubmisso. É raro. É bonito. É um luxo que não precisa custar uma fortuna — mas que custa tempo, atenção, relação. Um luxo que se produz em escala pequena, sem uniforme, sem máquina, sem linha de montagem. Um luxo vivo, com cheiro de planta e letra humana.


A Primeira Folha retorna aos rótulos escritos à mão como quem assume sua própria assinatura. Porque acreditamos que o futuro mais bonito — e mais justo — é feito por mãos visíveis. E porque, francamente, não há nada mais valioso que algo feito com o corpo inteiro.


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