Incensos Artesanais em pleno vôo
- João Diel
- 9 de jun.
- 2 min de leitura
Nos últimos anos, temos assistido a uma verdadeira expansão do fazer incensos artesanais. A oferta de cursos explodiu, as feiras estão cheias de novos rostos e, cada vez mais, o incenso se desloca das grandes indústrias para as mãos de pequenas artesãs e artesãos. É bonito de ver. Muitas dessas pessoas estão encontrando nessa prática uma possibilidade concreta de independência financeira e, talvez mais importante, uma saída da heterolândia: um espaço onde outras formas de viver, trabalhar e sentir se tornam possíveis.
Essa expansão traz frutos valiosos: fortalece redes locais, aproxima saberes tradicionais, dá espaço para criações sensíveis e contribui para o reconhecimento das pequenas produções como práticas legítimas e desejáveis. É um movimento que coloca o fazer com as mãos no centro e permite que mais gente viva daquilo que cria. É, também, um caminho de afirmação — sobretudo para quem, historicamente, foi empurrado para fora dos espaços de decisão e autonomia.
Mas como toda expansão rápida, surgem também desafios. O primeiro deles é o risco da superficialidade: fazer incensos não é só misturar ervas, é construir uma relação profunda com os materiais, com os aromas, com os ciclos naturais, e com a história que carregamos ao queimar um incenso. Além disso, a grande quantidade de produtos similares no mercado pressiona quem está começando: como se destacar numa arte milenar que atravessa tantas culturas e que hoje se populariza em escala nunca antes vista?
É aí que entra a importância da singularidade. Criar algo que fale de você, da sua história, do seu território, das suas mãos. Encontrar formas de se diferenciar não para competir, mas para compor o todo com a sua própria voz. O nosso incenso em folha de algodão dobrada em formato de tsuru é um gesto poético e inovador. Não apenas criamos um incenso: criamos um símbolo. O tsuru, ave de origami associada à paz e à longevidade, carrega um desejo de delicadeza, de cuidado, de beleza. Ao transformá-lo em incenso, somamos a arte milenar do fogo e da fumaça à arte de dobrar o papel — e fazemos disso uma assinatura.
Esse tipo de criação é o que sustenta um caminho artesanal com identidade. Porque o incenso, quando é artesanal, não precisa seguir um formato fixo, nem repetir fórmulas. Ele pode se dobrar, se reinventar, voar.
Que o movimento siga crescendo. E que dentro dele, caibam todas as singularidades.
